sábado, 23 de maio de 2015

Livro Recomendado da Semana - 24 a 30/05/2015



O LIVRO

"O Amante" conta a descoberta do amor e do sexo por uma adolescente, filha de uma família de colonos falidos na Indochina francesa, nos anos 30. O amor proibido da menina branca, sua entrega a um jovem chinês rico, dez anos mais velho do que ela, é também uma forma de escapar à claustrofobia e à derrocada da família, o seu "envelhecimento" precoce, a descoberta da sua solidão. É também a história da própria escritora
Nascida nos arredores de Saigon (Vietnã) pouco antes do estouro da Primeira Guerra, Marguerite Duras tornou-se um dos mais influentes nomes da literatura francesa a partir da década de 1940, escrevendo romances, peças de teatro e roteiros para cinema (Hiroshima Mon Amour, dirigido por Alain Resnais, é o mais famoso deles).
Mas foi só aos 70 anos de idade que Duras ganhou projeção internacional, com a novela O Amante, vencedora do Prêmio Goncourt de 1984 e traduzida em mais de 40 idiomas.
Filtrada por uma memória ao mesmo tempo autobiográfica e ficcional, a narrativa (que se passa em 1929) reconstitui os embates de uma adolescente que mantém uma relação com um oriental dez anos mais velho que ela.
Intensamente lírico e erótico, O Amante acompanha com rara felicidade a descoberta e o esgotamento da sexualidade, consumida em fogo lento pela escrita corrosiva de Duras.
Em 1991 o livro ganhou versão para o cinema pelo diretor francês Jean-Jacques Annaud.

A AUTORA

Marguerite Duras (pseudônimo de Marguerite Donnadieu) nasceu em 1914, em Gia Dihn (Vietnã), onde passou sua infância e adolescência.
Após a morte do marido, em 1918, a mãe de Duras conseguiu uma pequena concessão de terra no Camboja (então colônia francesa), mas o terreno se mostraria incultivável e sua família viria a perder quase tudo com a chegada das enchentes.
Esses dias na Ásia marcaram profundamente a vida de Duras. É a respeito dessa época uma de suas obras mais importantes, Barragem Contra o Pacífico (1950).
Aos 18 anos, muda-se para Paris, para concluir seus estudos. Em 1939, casa-se com o poeta Robert Antelme. Durante a Segunda Guerra, toma parte na Resistência Francesa à invasão nazista. Muito tempo depois, em maio de 1968, participaria da ação revolucionária de estudantes e escritores da Sorbonne.
Entre suas obras de maior destaque estão O Amante (1984), que lhe rendeu o Prêmio Goncourt - o mais importante da literatura francesa -, O Deslumbramento (1964) e A Dor (1985).
Depois do sucesso de Hiroshima Mon Amour (1960), passou a dirigir seus próprios roteiros cinematográficos. Entre seus trabalhos mais importantes para o cinema estão Nathalie Granger (1972) e Son Nom de Venise dans Calcuta Désert (1976).
Marguerite Duras morreu no dia 3 de março de 1996, em Paris.

COMENTÁRIO SOBRE A OBRA

Por BERNARDO CARVALHO colunista da Folha de São Paulo
 
O Amante conta a descoberta do amor e do sexo por uma adolescente, filha de uma família de colonos falidos na Indochina francesa, nos anos 30.
O amor proibido da menina branca, sua entrega a um jovem chinês rico, dez anos mais velho do que ela, é também uma forma de escapar à claustrofobia e à derrocada da família, o seu "envelhecimento" precoce, a descoberta da sua solidão. É também a história da própria escritora.
Duras ergueu uma ponte impensável entre fotonovela e literatura de vanguarda. Seu amante, nesse sentido, é um príncipe encantado que faz da menina adolescente uma prostituta aos olhos dos outros e que a faz descobrir ao mesmo tempo a solidão do seu próprio desejo, e por consequência a vocação para a literatura. Em troca, e à imagem da prostituta, a menina faz o amante apaixonado sofrer de amor.
É a coragem ou a loucura de avançar sobre um fio tênue entre a originalidade e o grotesco que fez de Duras uma verdadeira escritora. "Ela não estava doente da sua loucura, ela a vivia como se fosse sã", escreveu a propósito da própria mãe viúva e falida na Indochina, embora pudesse estar falando de si mesma e da coragem de avançar, como a adolescente ao encontro do amante chinês, sabendo que corria o risco de escorregar, de resvalar no ridículo, e ainda assim preferindo o risco à repetição.
Razão de sua obra muitas vezes ser tão vulnerável e dependente dos bons olhos do leitor.
A obra de Duras é essa vulnerabilidade, essa exposição ao leitor, sem a cumplicidade do qual pode não restar nada além do escárnio. Há quem a odeie por isso. Mas foi também essa entrega e essa exposição que lhe garantiram uma legião de fãs, que reconheceram a coragem (ou a loucura) de uma escritora determinada a criar uma língua e um estilo próprios.
Duras passou a viver a obra, incorporou o estilo à própria vida. E é o que faz do relato autobiográfico de O Amante também um texto ficcional, um romance por denegação: "A história da minha vida não existe".

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