segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Recomendado da Semana 23 a 29/10/2016

A GUERRA DO FIM DO MUNDO - MARIO VARGAS LLOSA

O LIVRO
Em 1977, depois do sucesso com o romance "Tia Julia e o escrevinhador", Mario Vargas Llosa começou a escrever um romance que seguia um caminho diferente: em vez de usar suas memórias para compor uma história de forte veia cômica, ele decidiu recontar a dramática Guerra de Canudos, impressionado pela leitura, alguns anos antes, de Os Sertões, de Euclides da Cunha. Em 1980, após exaustivas pesquisas em arquivos históricos e viagens pelo sertão da Bahia, ele terminava A guerra do fim do mundo, livro que, hoje, é reconhecido como o seu tour de force. Nele, o habilidoso escritor peruano constrói uma saga que engloba tudo; honra e vingança, poder e paixão, fé e loucura. “Este romance me fez viver uma das aventuras literárias mais ricas e exaltantes”, escreve Vargas Llosa no prefácio a essa edição. “Peregrinei por todas as vilas onde, segundo a lenda, o Conselheiro pregou, e nelas ouvi os moradores discutindo ardorosamente sobre Canudos, como se os canhões ainda trovejassem no reduto rebelde e o Apocalipse pudesse acontecer a qualquer momento naqueles desertos salpicados de árvores sem folhas, cheias de espinhos.” O resultado disso é um livro inesquecível, um épico moderno sobre Antônio Conselheiro e um dos conflitos mais sangrentos da história brasileira. Lançado originalmente em 1982, esse é o primeiro romance que Vargas Llosa situou fora do Peru. Nele, o autor dá uma nova dimensão à história de Antônio Conselheiro, em que personagens de carne e osso, alguns reais, outros imaginados, empreendem uma saga sem paralelos na história do país.

O AUTOR
Jorge Mario Pedro Vargas Llosa nasceu em Arequipa (Peru), em 1936, e passou a infância na Bolívia. De volta ao Peru, estuda Direito e Letras. Em 1959 vai para Madri, onde faz doutorado em Filosofia e Letras. Muda-se para Paris, como redator da France Presse. Seu primeiro livro, Os Chefes, é de 1959. Obtém sucesso internacional com o romance Batismo de Fogo (1962), traduzido para várias línguas. Em 1964, regressa ao Peru e realiza sua segunda viagem à selva amazônica. Trabalha como tradutor para a Unesco, na Grécia. Pantaleão e as Visitadoras sai em 1973. Pelos próximos anos, reside em Paris, Londres e Barcelona. Em 1981, publica A Guerra do Fim do Mundo, no qual narra a história da Guerra de Canudos. Volta ao Peru em 1983; sete anos depois concorre às eleições presidenciais (chegando ao segundo turno). Em seguida, muda-se para Londres, onde vive até hoje. Entre seus muitos títulos de ficção, jornalismo e ensaio, cabe mencionar os mais recentes: A Linguagem da Paixão (2002), Paraíso na Outra Esquina (2003), Travessuras da Menina Má (2006), O Sonho do Celta (2010) e O Herói Discreto (2013). Em 7 de Outubro de 2010 foi agraciado com o Prêmio Nobel de Literatura pela Academia Sueca de Ciências "por sua cartografia de estruturas de poder e suas imagens vigorosas sobre a resistência, revolta e derrota individual". O então presidente do Peru, Alan García, considerou o prêmio a Llosa como "um reconhecimento a um peruano universal".

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Desinteresse pelo livro - Salomão Laredo

Revendo meus recortes de jornais, encontrei este artigo de Salomão Laredo, escritor e jornalista paraense, que foi publicado em O Liberal, 21 de abril de 2004. Reproduzo-o na íntegra, por achá-lo interessantíssimo e ainda muito atual. Deleitem-se!

DESINTERESSE PELO LIVRO

Alguns amigos que sabem que há mais de vinte anos vou às escolas para conversar com os estudantes sobre a importância da leitura e do livro no sentido de fomentar o hábito de ler, perguntam-me por que o brasileiro não lê. Creio que sejam inúmeras as causas, mas podemos sublinhar algumas, dentre elas: percebo que a família não está educando os filhos nesse sentido. Outra: inexiste campanha sistemática e permanente (todo o tempo) para formar leitores. Há pouquíssimas bibliotecas e, por não serem lugares agradáveis de se ir e estar, mais afastam do que atraem o possível leitor.
A geração leitora de livros está passando e quem está chegando quase não tem o costume de ler, e quem não lê, não pode servir de exemplo, que é o que move alguém a alguma coisa. A experiência que adquiri nestes tempos em contato com professores e alunos (e assim imagino realizar trabalho mais eficiente, produtivo e útil às instituições de que faço parte) me autoriza a dizer que, na família onde os pais são leitores, não há necessidade de se falar aos filhos sobre a importância da leitura, basta o exemplo.
Claro, quem lê vai à livraria, biblioteca, banca de revista e leva os filhos que, pouco a pouco, percebem a importância desse saudável e salutar hábito de adquirir conhecimento, informação, moedas de ouro nestes tempos mundializados. Quem lê, dá livro de presente aos filhos, aos amigos, aos parentes, fala de livros, comenta, opina sobre conteúdo e isso vai incentivando outros.
Quem não é leitor, infelizmente, encontra todas as razões para se desinteressar por leitura. Vai justificar que os livros são inacessíveis porque custam caro nas poucas livrarias (que diminuíram de 800 para 600 em todo o Brasil) do lugar; que as bibliotecas estão fechadas nos horários  em que poderiam frequentá-las, que não há as obras que gostaria de ler, que são espaços calorentos, poeirentos, com atendentes mal-humorados e que há desconforto nas mesas e cadeiras. Muitas reclamações assim procedem, sem dúvida.
Os livros deveriam ser subsidiados para chegarem mais baratos às mãos de quem deseja adquiri-los (embora eu ache que nem de longe isso chegar a ser um interdito ou problema para que alguém leia). As bibliotecas públicas deveriam ser lugares mais abertos, atraentes, sedutores, com um bom acervo, permanente aquisição de novas obras e profissionais - bibliotecários - trabalhando alegres e felizes, com um digno salário, condições de atendimento e o prazer de estar fazendo o que gosta por livre opção de mercado.
E o que dizer das bibliotecas escolares? Com suas destacadas exceções, infelizmente, por não serem prioridades do sistema (não possuem infraestrutura de funcionamento) o pessoal tem que se esforçar bastante para essa ausência infraestrutural não vir a colaborar no desinteresse maior por livro e leitura. O aluno que vem de uma casa onde há total desinteresse por livro e quer mais permanecer nos vídeos games ou no futebol. É mais prazeroso, claro.
E bibliotecas que nunca abrem ao público, que ficam escondidas nos fundos da escola e que a função (por falta de condição) é só para alguém copiar trecho de livro didático como "trabalho de pesquisa"?
É certo que temos muitos avanços, que há muita gente e instituições trabalhando pela formação do leitor. Mas é preciso que todos nos empenhemos.
Temos que trabalhar muito e todos juntos para formar leitor, para exigir que os governos tenham políticas públicas que priorizem a leitura e tudo que daí decorre para que as novas gerações se tornem leitoras, gente com consciência social que vai fazer a diferença em uma nova sociedade que deve ser construída por cada um de nós.
No domingo passado, dia 18 de abril, transcorreu o Dia do Livro, quando foi aberta a Bienal do Livro de São Paulo. Meditemos o que podemos fazer para que se amplie o interesse de todos pelo livro e pela leitura. No mínimo, lutemos para que os governos mantenham campanhas permanentes na formação do leitor e adoção de novos espaços para o leitor e para o livro. Elejamos, neste ano eleitoral, políticos que se comprometam efetivamente com isso. A mudança vai acontecer.
É assim, com sério e permanente investimento em educação e cultura, que passam pela leitura e pelo livro, que adquirimos consciência social, que renovamos os cidadãos, que garantimos o aperfeiçoamento democrático, que ganhamos, nesse mar de diferentes, o entendimento de que tanto precisamos para nossa civilização. E aí, com certeza, alguém pode querer saber: por que o brasileiro lê?