domingo, 5 de julho de 2015

Livro Recomentado da Semana - 05 a 11/07/2015

PASSEIO AO FAROL - VIRGINIA WOOLF

O LIVRO

A história começa com a família Ramsay e amigos de férias numa ilha nas costas da Escócia durante a Primeira guerra Mundial. Anos depois, os sobreviventes se encontram no mesmo lugar, e as evocações do que foram são inevitáveis. Virginia dizia que o casal do romance, publicado em 1927, fora baseado em seus pais: a mulher mandona e radiante e o marido egoísta.
Virginia Woolf foi uma das principais inovadoras da prosa inglesa no século 20. A partir do romance O Quarto de Job (1922), a autora começou a desenvolver um estilo próprio, baseado no fluxo de consciência e no tempo psicológico. Nesse sentido, Passeio ao Farol (também traduzido no Brasil como Ao Farol  e Rumo ao Farol), de 1927, é uma de suas obras mais bem realizadas.
A partir de uma temporada de verão nas ilhas Hébridas (Escócia), a família Ramsay e seus convidados rememoram situações do passado, em que se misturam questões íntimas e banais, como o passeio de barco a um farol próximo, com os fatos traumáticos da Primeira Guerra Mundial.
"Um dos poucos livros desta espécie que está cheio de bom e legítimo amo, mas também, a seu modo feminino, de ironia, de tristeza informe e de dúvida real", disse o crítico Erich Auerbach.
Amiga de E. M. Forster, Lytton Strachey e John Maynard Keynes - que integravam o célebre "grupo de Bloomsbury" -, Virginia Woolf reconstituiu ficcionalmente, neste livro, muitas das experiências e sensações partilhadas com sua geração de intelectuais e artistas.

COMENTÁRIO SOBRE O LIVRO

Por LUÍS AUGUSTO FISCHER colunista da Folha de São Paulo

 A literatura produziu clássicos absolutos falando de viagens. O retorno de Ulisses a sua casa, na Odisseia; o périplo de Dante na Divina Comédia; as andanças do cavaleiro Dom Quixote. E um simples passeio de barco, a uma ilha vizinha, pode render um clássico? Na mão de Virginia Woolf, sim.
O enredo põe em ação um grupo familiar, os Ramsay, e alguns amigos, numa casa de praia da Grã-Bretanha, em dois momentos distintos.
O primeiro ocorre quando a Sra. Ramsay, mãe de oito filhos, está no esplendor de sua beleza, discreta e luminosa; ela e seu marido, um intelectual de méritos, recebem na casa um aluno dele, um velho poeta, um botânico, uma pintora.
Vivem-se os momentos anteriores à Primeira Guerra Mundial (1914); todos ali são refinados, delicados, de intensa vida intelectual. E a Sra. Ramsay percebe que aquele é um momento único de felicidade.
Mas as coisas mudam, porque o tempo passa. Numa breve segunda parte, o romance relata nada mais que a ausência: a harmoniosa família que ocupava a casa de veraneio não tem vindo, nos anos da Guerra. Chega-se à última parte, quando os remanescentes da família e dos amigos voltam à casa, já um tanto deteriorada.
Desta vez, passada a Guerra, vai-se realizar o passeio de barco até a ilha do farol, passeio prometido desde anos antes, quando todos ainda estavam presentes e o futuro parecia uma certeza.
Rumo ao Farol é um romance de narração delicada e tempo espesso. Tudo acontece mais na interioridade dos personagens do que em suas ações, e tudo chama para os detalhes da sensibilidade individual.
Mas nessas pequenas percepções se lê muito mais que a crônica do amadurecimento, da desilusão com a vida, do fim da infância, porque tudo se integra e se dissolve no andamento maior da História, que costuma ser grandiosa na decadência dos impérios.

A AUTORA

Virginia Woolf - 1882-1941
Virginia Woolf nasceu em Londres, em 1882. Filha de um editor, Sir Leslie Stephen, ela recebeu uma educação esmerada, frequentando desde cedo o mundo literário.
Em 1912, casa-se com Leonard Woolf, com quem funda, em 1917, a Hogarth Press, editora que revelou escritores como Katherine Mansfield e T. S. Eliot.
Fez parte do grupo Bloomsbury, círculo de intelectuais sofisticados que, passada a Primeira Guerra Mundial, investiria contra as tradições literárias, políticas e sociais da era vitoriana.
As primeiras obras de Virginia Woolf foram A Viagem (1915), e Noite e Dia (1919). Em Mrs. Dalloway (1925), Virginia Woolf emprega recursos narrativos inovadores para retratar a experiência individual. O mesmo ocorre com Passeio ao Farol (1927).
Em 1928, publica Orlando, fantasia histórica que evoca com brilho e humor a Inglaterra da era elizabetana. Nesse período, Woolf faz as famosas conferências para estudantes dos grandes colégios femininos de Cambridge, nas quais mostra sua verve feminista.
Em 1931, publica As Ondas, uma de suas obras mais importantes. Seis anos mais tarde, laça Os Anos. Toda a vida de Virginia Woolf foi dedicada à literatura. Em 1941, vítima de grave depressão, ela se suicida, deixando considerável número de ensaios, extensa correspondência e o romante Entre os Atos (1941).

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