sábado, 27 de junho de 2015

Livro Recomentado da Semana - 28/06 a 04/07/2015

TRÓPICO DE CÂNCER - HENRY MILLER

O LIVRO

Romance autobiográfico, Trópico de Câncer narra as aventuras existenciais e sexuais de um americano em Paris. Como protagonista, Miller havia se mudado para a capital francesa em 1930. Seu primeiro romance causou furor entre os mais moralistas pela descrição naturalista das relações sexuais. Acusado de pornográfico, o livro só seria lançado nos Estados Unidos em 1964, 30 anos depois de ter sido editado.
Como tantos escritores que emigraram para a Paris dos anos 1920-30, o norte-americano Henry Miller experimentou na capital francesa tudo o que há de bom e de ruim na condição de exilado voluntário: o desenraizamento, a liberdade, o desespero, a vida anárquica e boêmia, a falta de dinheiro.
Narrado em primeira pessoa, Trópico de Câncer (1934) é o resultado literário dessa experiência, um confronto direto entre o vigoroso individualismo de Miller e o mundo caótico e ameaçador do entre guerras.
Sem obedecer a uma sequência linear, o romance se estende pelos bulevares da cidade, entra em suas pensões baratas, se embebeda nos cafés ordinários, convive com uma multidão de artistas e intelectuais igualmente desenraizados e sem dinheiro, dorme com prostitutas e mulheres solitárias. O ritmo é de relato rápido, ansioso, de quem quer chegar à medula das coisas.
Tendo sido acusado de pornográfico e obsceno quando foi lançado, o livro de Henry Miller pode hoje ser lido, sem as lentes do preconceitos, como um dos mais intensos testemunhos literários de uma geração que mergulha de cabeça na vertigem do século 20.

COMENTÁRIO SOBRE O LIVRO (Contracapa da Edição da Biblioteca Folha)

Por Fernando Bonassi, colunista da Folha de São Paulo

Não é apenas um livro o que você tem nas mãos. Aliás, muito cuidado ao abri-lo. Quando um texto é resultado de mergulhos tão profundos no poço da verdade, o resultado pode, no mínimo, não cheirar bem.
Esta... "bomba de efeito moral"... foi lançada na França, em meados dos anos 30, e permaneceria longo tempo censurada nos Estados Unidos, dados seu alto poder de destruição.
Adotada por tudo o que se diz moderno desde então, suas revelações só começariam a ser digeridas no Novo Mundo quando o sonho americano deu sinais de pesadelo e os filhos e filhas da bomba atômica abriram os olhos, deixaram crescer os cabelos e suspenderam as saias.
Trata-se das anotações minuciosas de um homem que abandonou as convenções de sua época em nome daquilo que nem todos os gregos conseguiram, embora recomendassem veementemente: o conhecimento de si mesmo.
Atravessando o mar tormentoso desse desafio, seu herói, anormal como qualquer um de nós, se defronta com o que há de mais nobre e medíocre na experiência humana, fazendo um dos elogios mais revolucionários da autonomia pessoal que a literatura universal pode suportar.
Aqui se encontra música: a cadência de frases vitaminadas e a força irada das imagens poéticas. Aqui se discute sem vergonha o preço da felicidade e do caos. Sexo, loucura, arte, vício, fome... Você tem nas mãos um livro nojento, grandioso, estimulante, infernal.
Você tem nas mãos o Livro da Vida! Diante de uma experiência como essa, só o arrebatamento. Isto posto, abra-o... concentre-se, ajoelhe-se e faça-se merecedor de tanta sabedoria.

O AUTOR

Henry Valentine Miller nasceu em 1891, em Nova York, Estados Unidos. Filho de um pobre alfaiate do Brooklyn, bairro donde cresceu e exerceu diversas profissões - de lixeiro e coveiro a vendedor de livros e empregado da companhia de telégrafos Western Union. Em 1924, larga seu emprego para se dedicar à Literatura.
Miller muda-se para Paris em 1930; convivendo com outros norte-americanos voluntariamente exilados, sofre privações econômicas, compensadas para ele pela liberdade moral dos franceses. Torna-se amigo de expoentes da cultura da época, como Anaïs Nin e Lawrence Durrel.
Trópico de Câncer, seu primeiro livro, foi publicado em 1934, em Paris, com ajuda de Anaïs Nin, que também o auxiliar na publicação de Primavera Negra (1936) e de Trópico de Capricórnio (1939). Em 1940, a Segunda Guerra Mundial obriga Miller a voltar aos Estados Unidos. Instala-se, então, em Bir Sur, na Califórnia, mas seus livros são proibidos no país, sob acusação de obscenidade.
Foi só na de´cada de 1960, com suas reivindicações de liberdade sexual, que a mocidade norte-americana reconheceria em Miller um grande autor, para não dizer um guia. Sua trilogia autobiográfica Sexus (1949), Plexus (1952) e Nexus (1959) seria liberada em 1964, após uma série de processos judiciais. Henry Miller morreu em 1980, em Los Angeles (EUA).

Nenhum comentário:

Postar um comentário