domingo, 14 de junho de 2015

Livro Recomendado da Semana - 14 a 20/06/2015



A LINHA DE SOMBRA – JOSEPH CONRAD

O LIVRO

Por Maurício Santana Dias, da Folha de São Paulo.

Um inexperiente capitão-do-mar, em sua primeira viagem no comando de um navio, enfrenta duas crises: sua tripulação está moribunda por causa de uma febre e faltam ventos para navegar. Para escapar desse beco sem saída, o arrogante capitão terá de cruzar a tal linha de sombra que separa toda experiência-limite. O romance foi escrito por Conrad quando seu filho Borys combatia na Primeira Guerra.
Sem nenhum motivo aparente, um jovem da marinha mercante inglesa resolve abandonar a vida no mar.
Está decidido a partir do distante porto oriental onde se encontra para regressar ao país de origem. Mas surge uma última missão e o jovem assume o comando de um velho navio atracado em Bancoc (Tailândia), cujo capitão morrera recentemente em circunstâncias misteriosas.
Sofrendo com as tempestades, a tripulação doente e uma ameaçadora sensação de aniquilamento, o protagonista tenta conduzir o navio a seu destino, ao mesmo tempo em que se deixa levar pelas estranhas histórias de seu imediato, consumido pela febre.
Com domínio total da psicologia das personagens e da situação-limite que vivem, Joseph Conrad (1867-1924) reflete nesta novela, a partir de elementos de sua própria biografia, sobre o rito de passagem entre a juventude e a idade madura – passagem que ele mesmo experimentou ao abandonar a relativamente autônoma vida marítima pela incerta experiência literária.

COMENTÁRIO SOBRE O LIVRO

Por Carlos Eduardo Lins da Silva, Diretor-Adjunto de Redação do “Valor”.

Joseph Conrad e James Joyce são com frequência citados como os principais escritores do século 20 não premiados com o Nobel de Literatura, apesar de provavelmente o terem merecido mais do que muitos agraciados.
O grande escritor argentino Jorge Luis Borges (que também não ganhou o Nobel) admirava Conrad por enxergar nele a capacidade de criar personagens "próximos do herói da tragédia" em vez de se ocupar, como a maioria dos romancistas, com "as tragédias dos homens". E também porque o fazia sem recorrer a narrativas fantásticas. Seus personagens eram "habitantes do mundo".
O prefácio de A Linha de Sombra era citado por Borges como exemplo de modo de produzir ficção relevante: "O mundo dos vivos já contém suficientes maravilhas e mistérios sendo como é; maravilhas e mistérios agindo sobre nossas emoções e inteligência de modos tão inexplicáveis que quase justificariam a concepção da vida como um estado de encantamento".
Relato de uma experiência pessoal, este livro demonstra por que Conrad tem sido objeto de grande deferência da parte de seus pares (Graham Greene, Henry James, H.G. Wells e Ford Maddox Ford também eram seus fãs e Hitchcock, Ridley Scott e Francis Ford Coppola, entre outros, fizeram filmes inspirados em seus livros).
A Linha de Sombra comprova a competência com que Conrad extraía da realidade profundas reflexões de ordem psicológica e moral, relatadas com sofisticada técnica narrativa e extrema elegância de estilo.

O AUTOR

Józef Teodor Konrad Korzeniowski nasceu em 1857, em Berditchev (Ucrânia), numa família de patriotas empenhados em libertar a Polônia do domínio russo.
Acompanhando o exílio de seus pais (na própria Rússia), teve seu primeiro contato com a língua inglesa enquanto seu pai traduzia autores como Shakespeare e Victor Hugo. Antes de completar 12 anos, ficou órfão; sua educação foi confiada a um tio materno.
Adolescente, entediou-se com a escola e escolheu a vida no mar. Aos 17 anos tornou-se aprendiz de marinheiro em Marselha, França. Em 1878, mudou-se para a Inglaterra, onde seguiu carreira na Marinha e ganhou cidadania inglesa, com o nome de Joseph Conrad.
Publica seu primeiro livro tardiamente, aos 38 anos, quando se aposenta da Marinha. Em 1895, lança A Loucura do Almayer, no qual descreve os europeus fracassados e perdidos que encontrou em ilhas do Pacífico. Em 1902, publica a novela O Coração das Trevas, em que narra o drama da destruição moral da Europa colonialista - a história de um líder branco entre selvagens do Congo.
Considerado um dos maiores estilistas da prosa inglesa, Conrad nunca chegou a dominar, falando, a língua em que escrevia. Entre seus principais livros estão Lord Jim (1900), Nostromo (1904), O Agente Secreto (1907), Sob os Olhos Ocidentais (1911) e A Linha de Sombra (1917). Joseph Conrad morreu em 1924, na Inglaterra.

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