A
LINHA DE SOMBRA – JOSEPH CONRAD
O
LIVRO
Por Maurício Santana Dias, da Folha de São
Paulo.
Um inexperiente capitão-do-mar, em sua
primeira viagem no comando de um navio, enfrenta duas crises: sua tripulação
está moribunda por causa de uma febre e faltam ventos para navegar. Para
escapar desse beco sem saída, o arrogante capitão terá de cruzar a tal linha de
sombra que separa toda experiência-limite. O romance foi escrito por Conrad
quando seu filho Borys combatia na Primeira Guerra.
Sem nenhum motivo aparente, um jovem da
marinha mercante inglesa resolve abandonar a vida no mar.
Está decidido a partir do distante porto
oriental onde se encontra para regressar ao país de origem. Mas surge uma
última missão e o jovem assume o comando de um velho navio atracado em Bancoc
(Tailândia), cujo capitão morrera recentemente em circunstâncias misteriosas.
Sofrendo com as tempestades, a tripulação
doente e uma ameaçadora sensação de aniquilamento, o protagonista tenta
conduzir o navio a seu destino, ao mesmo tempo em que se deixa levar pelas
estranhas histórias de seu imediato, consumido pela febre.
Com domínio total da psicologia das
personagens e da situação-limite que vivem, Joseph Conrad (1867-1924) reflete
nesta novela, a partir de elementos de sua própria biografia, sobre o rito de
passagem entre a juventude e a idade madura – passagem que ele mesmo
experimentou ao abandonar a relativamente autônoma vida marítima pela incerta
experiência literária.
COMENTÁRIO
SOBRE O LIVRO
Por Carlos Eduardo Lins da Silva,
Diretor-Adjunto de Redação do “Valor”.
Joseph Conrad e James Joyce são com frequência
citados como os principais escritores do século 20 não premiados com o Nobel de
Literatura, apesar de provavelmente o terem merecido mais do que muitos
agraciados.
O grande escritor argentino Jorge Luis Borges
(que também não ganhou o Nobel) admirava Conrad por enxergar nele a capacidade
de criar personagens "próximos do herói da tragédia" em vez de se
ocupar, como a maioria dos romancistas, com "as tragédias dos
homens". E também porque o fazia sem recorrer a narrativas fantásticas.
Seus personagens eram "habitantes do mundo".
O prefácio de A Linha de Sombra era citado por Borges como exemplo de modo de
produzir ficção relevante: "O mundo dos vivos já contém suficientes
maravilhas e mistérios sendo como é; maravilhas e mistérios agindo sobre nossas
emoções e inteligência de modos tão inexplicáveis que quase justificariam a
concepção da vida como um estado de encantamento".
Relato de uma experiência pessoal, este livro
demonstra por que Conrad tem sido objeto de grande deferência da parte de seus
pares (Graham Greene, Henry James, H.G. Wells e Ford Maddox Ford também eram
seus fãs e Hitchcock, Ridley Scott e Francis Ford Coppola, entre outros,
fizeram filmes inspirados em seus livros).
A Linha
de Sombra comprova a competência com que Conrad
extraía da realidade profundas reflexões de ordem psicológica e moral,
relatadas com sofisticada técnica narrativa e extrema elegância de estilo.
O AUTOR
Józef Teodor Konrad Korzeniowski nasceu em
1857, em Berditchev (Ucrânia), numa família de patriotas empenhados em libertar
a Polônia do domínio russo.
Acompanhando o exílio de seus pais (na
própria Rússia), teve seu primeiro contato com a língua inglesa enquanto seu
pai traduzia autores como Shakespeare e Victor Hugo. Antes de completar 12
anos, ficou órfão; sua educação foi confiada a um tio materno.
Adolescente, entediou-se com a escola e
escolheu a vida no mar. Aos 17 anos tornou-se aprendiz de marinheiro em
Marselha, França. Em 1878, mudou-se para a Inglaterra, onde seguiu carreira na
Marinha e ganhou cidadania inglesa, com o nome de Joseph Conrad.
Publica seu primeiro livro tardiamente, aos
38 anos, quando se aposenta da Marinha. Em 1895, lança A Loucura do Almayer, no qual descreve os europeus fracassados e
perdidos que encontrou em ilhas do Pacífico. Em 1902, publica a novela O Coração das Trevas, em que narra o
drama da destruição moral da Europa colonialista - a história de um líder
branco entre selvagens do Congo.
Considerado um dos maiores estilistas da
prosa inglesa, Conrad nunca chegou a dominar, falando, a língua em que
escrevia. Entre seus principais livros estão Lord Jim (1900), Nostromo
(1904), O Agente Secreto (1907), Sob os Olhos Ocidentais (1911) e A Linha de Sombra (1917). Joseph Conrad
morreu em 1924, na Inglaterra.
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