sábado, 22 de agosto de 2015

Livro Recomendado da Semana - 23 a 29/08/2015

A REVOLUÇÃO DOS BICHOS - GEORGE ORWELL

O LIVRO
O sonho de um velho porco e criar uma granja governada por animais, sem a exploração dos homens concretiza-se com uma revolução. Como acontecem com as revoluções, a dos bichos também está fadada à tirania, com a ascensão de uma nova casta ao poder. Nesta fábula feita sob medida para a Revolução Russa, todos os animais são iguais, mas uns são mais iguais do que os outros.
Num belo dia, os animais da fazenda do sr. Jones se dão conta da vida indigna a que são submetidos: eles se matam de trabalhar para os homens, lhes dão todas as suas energias em troca de uma ração miserável, para ao final serem abatidos sem piedade. Liderados por um grupo de porcos, os bichos então expulsam o fazendeiro de sua propriedade e pretendem fazer dela um Estado em que todos serão iguais.
Logo começam as disputas internas, as perseguições e as exploração do bicho pelo bicho, que farão da fazenda um arremedo grotesco da sociedade humana.
Publicada em 1945, A Revolução dos Bichos foi imediatamente interpretada como uma fábula satírica sobre os descaminhos da Revolução Russa, chegando a ter sido utilizada pela propaganda  anticomunista. A novela de George Orwell de fato fazia uma dura crítica ao totalitarismo soviético; mas seu sentido transcende amplamente o contexto do regime stalinista.
Mais do que nunca esta pequena obra-prima da ficção inglesa parece falar aos nossos dias, quando a concentração de poder e de riquezas, a manipulação da informação e as desigualdades sociais parecem atingir um ápice histórico.

O AUTOR
George Orwell, pseudônimo de Eric Arthur Blair, nasceu em 1903, em Bengala (Índia), filho de um funcionário britânico e uma francesa. Muda-se para a Inglaterra em 1911, e vai para um internato. De 1917 a a921, estuda no Eton College, uma das mais tradicionais escolas inglesas, onde tem aulas com o escritor Aldous Huxley. Em 1922, recusa uma bolsa para a universidade e volta à Índia para trabalhar na polícia imperial.
Retorna à Inglaterra em 1928. Vivendo na pobreza - chega mesmo à mendicância -, vaga por Londres e Paris até meados de 1930. Em 1933, publica seu primeiro livro, Na Pior em Paris e Londres.
Socialista, vai para a Espanha, em 1936, lugar na Brigada Internacional em apoio ao recém-eleito governo popular. Lutando na Espanha (1938) narra suas experiências na Guerra Civil Espanhola.
Durante a Segunda Guerra Mundial Orwell trabalha como correspondente de guerra para a BBC. Em 1945, publica A Revolução dos Bichos, até hoje sua obra mais popular. Outro livro conhecido em todas as línguas é o seu romance 1984 (1949), uma sátira pessimista sobre a ameaça de tirania política no futuro.
George Orwell morreu em 1950, na Inglaterra, em consequência de uma tuberculose. Entre outras obras, escreveu também Dias na Birmânia (1934), O Caminho de Wigan (1937) e Por que Escrevo (1946).

COMENTÁRIO SOBRE O LIVRO

Por Fernando de Barros e Silva - Editor da Folha de São Paulo

George Orwell publicou A Revolução dos Bichos, numa época em que, por conivência ou desconhecimento parcial de suas atrocidades, o comunismo soviético ainda gozava de enorme prestígio nos meios progressistas. Impulsionado pela atmosfera de "Guerra Fria" - expressão, aliás, atribuída a Orwell -, o livro fez sucesso instantâneo. Ninguém, depois dele, teria o direito de ainda ser inocente.
Poucas obras seriam tão instrumentalizadas à revelia de seu autor. Crítico precoce do stalinismo, Orwell sempre se definia como um socialista de convicções profundamente democráticas.
Os Estados Unidos transformaram o seu livro numa peça de propaganda do anticomunismo e a CIA chegou a providenciar uma versão em desenho animado, distribuída no mundo inteiro, com a cena final adulterada. Morto em 1950, aos 46 anos, Orwell provavelmente teria morrido uma segunda vez, de desgosto, ao ver sua obra desvirtuada pelas engrenagens do macarthismo.
O comunismo, pelo menos na forma que o conhecemos, pertence hoje ao cemitério da história. A Revolução dos Bichos, porém, sobreviveu à experiência que o tornou possível.
A fábula dos animais que se rebelam contra o tirano que os explorava e, em nome de ideais igualitários, constroem uma sociedade ainda mais opressiva, preserva seu interesse e para em pé mesmo sem referência imediata à história.
A linguagem quase simplória e as alegorias transparentes fazem do livro uma delícia para crianças. Mas não só. Sua máxima moral, de que "todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais que os outros", talvez traduza, para o bem e para o mal, uma das poucas verdades ancestrais acerca da dominação, da Idade do Bronze aos dias que correm.

Nenhum comentário:

Postar um comentário