domingo, 6 de setembro de 2015

Livro Recomendado da Semana - 13 a 19/09/2015

UMA TRAGÉDIA AMERICANA - THEODORE DREISER

O LIVRO / COMENTÁRIO SOBRE O LIVRO

Um dos valores da obra de Theodore Dreiser, escritor estadunidense de início do século XX é ter como objeto de suas histórias a classe trabalhadora. Por Ronan
Talvez demore muito tempo para que uma pessoa consiga perceber o quanto os populares são excluídos das pinturas, novelas e romances. No Brasil, o hábito é que uma população empobrecida se acostume embasbacar com um cotidiano de elite apresentado pela televisão. Ao contrário, tal como em romances de Victor Hugo, Leon Tolstoi, John Steinkbeck, Émile Zola, Fiódor Dostoiévski, tem-se presente, em Theodore Dreiser, o universo popular.
Uma Tragédia Americana é um livro extenso que compensa o esforço. Publicado por Dreiser no ano de 1925, a obra narra a odisseia de um jovem pobre em busca da ascensão social. O livro parece mesmo a biografia de qualquer um dos milhões de jovens que se pode encontrar em qualquer cidade grande: Clyde, o herói da história, passa pela origem humilde, o encantamento com o mundo do consumo, as variadas formas de tentar negar a condição de pobre e trabalhador, o conflito entre os valores familiares e a cultura juvenil, entre o compromisso com o orçamento familiar e o luxo possível, o abandono de preceitos morais e do caráter pelo sucesso a qualquer preço. O livro sintetiza bem a filosofia do mundo contemporâneo: vencer na vida, quando isso é sinônimo de dinheiro, fama, glamour. Vencer na vida, independente do preço moral da vitória. Com efeito, Clyde se dispõe a abandonar irmãos e pais, depois uma namorada grávida e até mesmo assassiná-la na busca do sucesso.
O romance também faz um retrato exato das relações de afinidade e parentesco que a elite tece para se manter coesa e no poder, das práticas culturais e dos símbolos utilizados para se distinguir dos populares, do profundo desprezo com que enxerga os pobres e do cinismo (insensibilidade) com que encara a condição dos trabalhadores. Da mesma forma, mostra como e elite joga por terra qualquer condicionamento moral quando se trata de livrar um dos seus e manter o status.
De uma perspectiva anticapitalista, Uma Tragédia Americana é ainda envolvente porque narra o abandono dos valores de classe por um jovem proletário que acaba por ferrar-se no encantado mundo de consumo e glamour da elite: hipnotizado por ela, é trucidado em suas mãos. Em vários momentos da história, Clyde tem a oportunidade de constatar o desprezo e a condição subalterna a que é voltado, mas permanece em seu encalço até o desfecho. Ele prefere arriscar tudo, até mesmo a vida, a permanecer como trabalhador. Nesse aspecto, a história de Clyde se assemelha a de tantos jovens pobres que preferem o crime, tragédia certa, a quatro ou cinco horas de condução diária, trabalho estafante e salário baixo, pouco valor social.
A tragédia mostra a adoção pelos explorados da perspectiva dos exploradores e a violência em que isso se processa. De início, Clyde é somente um jovem pobre, filho de protestantes fanáticos que, junto com os filhos, vão cantar e pregar no centro da cidade. É um jovem feliz e bem encaminhado moralmente, sem dúvidas quanto ao destino da vida. Aos poucos ele vai se dando conta de como ele e sua família, por pregarem na rua, por estarem alheios aos consumismo, são ridicularizados pelos demais jovens, que caçoam de suas roupas, de seu corte de cabelo, de seu jeito de ser. Percebe como são vistos os pobres e as pessoas sem vaidade e sem ambições. De como os que não têm dinheiro são tratados como pessoas de segunda ou terceira: sua adesão aos valores urbanos e consumistas é desencadeada pela vontade de ser tratado decentemente. Eis que, na mais miserável das periferias, jovens que consigam ter um Nike no pé ridicularizam e humilham aqueles que não o possuem.
A história serve para ilustrar como que ao exploradores não basta explorar, é necessário segregar e humilhar. Não bastasse a pobreza decorrente da desigualdade social, se procura fazer do pobre um ser de humanidade inferior. Não bastasse os trabalhadores sustentarem com seu suor a riqueza e luxo dos poderosos, eles pretendem, ainda, colocarem-se como moralmente superiores, mais belos, inteligentes, esforçados, puros. Ao mesmo tempo, procuram individualizar os problemas sociais, fazendo com que o pobre se culpe por sua condição e, introjetando os valores do mundo que lhe é negado, se veja como um sujeito menor. Uma Tragédia Americana é um livro e tanto. Trata-se de um romance que vai fundo na análise social e na crítica aos valores dominantes ao enfatizar a miséria moral do mundo do sucesso a qualquer preço.
Fonte: www.passapalavra.info/2009/02/850

O AUTOR

Theodore Herman Albert Dreiser (Terre Haute, Indiana, 27 de Agosto de 1871 - 28 de Dezembro de 1945) foi um escritor e ativista político norte-americano. Sucedeu Franck Norris como o escritor mais representativo do naturalismo nos Estados Unidos.
Seu pai era um imigrante alemão católico, enquanto a mãe pertencia a uma comunidade menonita de agricultores estabelecidos em Dayton, Ohio, tendo sido repudiada após seu casamento e conversão ao catolicismo. Theodore era o 12º de 13 filhos - nodo de dez sobreviventes.
de 1889 a 1890, Theodore frequentou a Universidade de Indiana, antes de ser reprovado. Por vários anos, escreveu para o jornal Chicago Globe e depois para o St. Louis Globe-Democrat.
O seu primeiro romance, Sister Carrie (1900), conta a história de uma mulher que troca a vida do campo por uma vida fútil na cidade de Chicaco, Illinois. O segundo romance, Jennie Gerhardt, foi publicado no ano seguinte. Grande parte da obra subsequente de Dreiser trata de injustiças sociais.
Seu primeiro sucesso comercial, Uma Tragédia Americana (1925), é a história de um jovem de caráter instável surpreendido por acontecimentos que o levam à execução por assassinato. O romance deu origem a um filme em 1931 e novamente em 1951

Dreiser não é tão apreciado por seu estilo mas sobretudo pelo realismo de seu trabalho, pela construção dos personagens e por seus pontos de vista sobre o estilo de vida americano. Teve grande influência sobre a geração de escritores americanos que se seguiu à sua.
Politicamente, Dreiser envolveu-se com várias campanhas contra a injustiça social, incluindo o linchamento do sindicalista Frank Little, um dos líderes na Industrial Workers of the World, o caso Sacco and Vanzetti, a deportação de Emma Goldman e a condenação do líder sindical Thomas Mooney.
Em 1935 a Associação das Bibliotecas de Warsaw, Indiana, ordenou a queima de todos os trabalhos de Dreiser existente nos acervos.
Theodore Dreiser, um militante socialista, ou antes, comunista, escreveu vários livros de não-ficção sobre questões políticas, dentre os quais Dreiser Looks at Russia (1928), sobre sua viagem à União Soviética, em 1927; Tragic America (1931) e America is Worth Saving (19141). Elogiou a União Soviética sob Stálin durante o Grande Terror e a aliança com Hitler.
Filiou-se ao Partido Comunista Americano em agosto de 1945. Em dezembro, faleceu em Hollywood, de ataque cardíaco, aos 74 anos. Encontra-se sepultado no Forest Lawn Memorial Park, Glendale, Los Angeles, nos Estados Unidos.

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